FONTE SANTA - Nome antigo de uma rua lisbonense, na freguesia de Alcântara, hoje chamada de Possidónio da Silva, onde há um velho chafariz, de água salobra, que dantes se dizia que era boa para o estômago;...(....)
No troço da Rua Possidónio da Silva, fronteiro à Escola Josefa de Óbidos, fica situado um pequeno chafariz, servido por um também pequeno tanque, que hoje se encontram desactivados e degradados. Há umas décadas atrás, a água ainda jorrava, como vinha sucedendo desde, pelo menos, a era de quinhentos. Aquela hoje abandonada fonte fora uma nascente de águas frescas e cristalinas que, de acordo com a sabedoria popular, tinham virtudes curativas. Nos tempos da minha juventude, essa água já pertencia à rede pública de abastecimento da Cidade. Não foi, porém, por possuir virtuais propriedades medicinais que a água tornou santa aquela fonte. No século XVI, nos terrenos da Quinta dos Prazeres, existia uma nascente servida por uma bica, onde apareceu, não se sabe vinda de onde, uma imagem de Nossa Senhora. O povo, na sua singela e comovedora devoção, considerou o facto como sendo um milagre, passou a designar como Fonte Santa o Chafariz e área circundante e atribuiu miraculosas propriedades medicinais à água. A Quinta dos Prazeres pertencia a famílias fidalgas e estendia-se desde a hoje inexistente Ribeira de Alcântara até ao local onde, em 1835, se começou a erigir o Cemitério dos Prazeres. Era uma quinta de vastos campos agrícolas e pastoris que, mais tarde, seria urbanizada e transformada em bairro popular, de modestas casas e pátios, mas também algumas casas solarengas. A rua principal, que viria a ter o nome do benemérito Possidónio da Silva, começava na Triste-Feia, a Alcântara, para terminar junto ao Convento do Senhor Jesus da Boa Morte. Neste convento, hoje património do Estado, funcionavam uma Escola feminina e um centro de enfermagem, entregues a religiosas; é aqui que labora a actual Assistência Infantil de Santa Isabel, popularmente conhecida por “Escola das Irmãzinhas”, dirigidas por freiras católicas. Nesta zona, no século XVIII, foram edificadas algumas casas senhoriais, como é exemplo do solar dos antigos Condes de Ilha de Príncipe, depois Condes do Lumiar. Mas voltemos à Fonte Santa, tema desta crónica. Também no século XVIII, a Fonte sofreu obras de ampliação e, nas suas redondezas, viu ser construída a Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres que, depois de abandonada, se tornaria uma popular taberna – o João da Ermida. Vastas remodelações se verificaram em 1835, não só no Chafariz como em toda a zona circundante, chegando a existir uma concorrida feira, que seria proibida em 1893, devido à enorme turbulência dos seus frequentadores e, ainda por cima, com um cemitério tão perto… Uma das novidades, introduzida no conjunto arquitectónico do Chafariz, foi o acrescento de uma pequena nau que, segundo a prosa do ilustre jornalista e olisipógrafo Norberto de Araújo, era “uma das mais lindas naus quinhentistas de Lisboa, bela pedra de um relevo mais adoçado de expressão do que bárbaro de corte” (in Legendas de Lisboa). No século XVIII, toda esta vasta zona populacional, que sucedera à Quinta dos Prazeres, fazia parte da então Freguesia do Senhor Jesus da Boa Morte, que seria extinta em 1780, e o seu território partilhado pelas freguesias, dos intra-muros de Lisboa, Santa Isabel e São Pedro em Alcântara. Esta mesma área pertence, hoje, às Freguesias de Santo Condestável e Prazeres, destacadas há cerca de meio século, de Santa Isabel e Alcântara.
Fernando J. Almeida
in http://jbairro.blogspot.com/2007/07/fonte-santa-dos-prazeres.html
A Fonte Santa dos Prazeres
ReplyDeleteNo troço da Rua Possidónio da Silva, fronteiro à Escola Josefa de Óbidos, fica situado um pequeno chafariz, servido por um também pequeno tanque, que hoje se encontram desactivados e degradados. Há umas décadas atrás, a água ainda jorrava, como vinha sucedendo desde, pelo menos, a era de quinhentos. Aquela hoje abandonada fonte fora uma nascente de águas frescas e cristalinas que, de acordo com a sabedoria popular, tinham virtudes curativas. Nos tempos da minha juventude, essa água já pertencia à rede pública de abastecimento da Cidade.
Não foi, porém, por possuir virtuais propriedades medicinais que a água tornou santa aquela fonte. No século XVI, nos terrenos da Quinta dos Prazeres, existia uma nascente servida por uma bica, onde apareceu, não se sabe vinda de onde, uma imagem de Nossa Senhora. O povo, na sua singela e comovedora devoção, considerou o facto como sendo um milagre, passou a designar como Fonte Santa o Chafariz e área circundante e atribuiu miraculosas propriedades medicinais à água.
A Quinta dos Prazeres pertencia a famílias fidalgas e estendia-se desde a hoje inexistente Ribeira de Alcântara até ao local onde, em 1835, se começou a erigir o Cemitério dos Prazeres. Era uma quinta de vastos campos agrícolas e pastoris que, mais tarde, seria urbanizada e transformada em bairro popular, de modestas casas e pátios, mas também algumas casas solarengas. A rua principal, que viria a ter o nome do benemérito Possidónio da Silva, começava na Triste-Feia, a Alcântara, para terminar junto ao Convento do Senhor Jesus da Boa Morte. Neste convento, hoje património do Estado, funcionavam uma Escola feminina e um centro de enfermagem, entregues a religiosas; é aqui que labora a actual Assistência Infantil de Santa Isabel, popularmente conhecida por “Escola das Irmãzinhas”, dirigidas por freiras católicas.
Nesta zona, no século XVIII, foram edificadas algumas casas senhoriais, como é exemplo do solar dos antigos Condes de Ilha de Príncipe, depois Condes do Lumiar. Mas voltemos à Fonte Santa, tema desta crónica.
Também no século XVIII, a Fonte sofreu obras de ampliação e, nas suas redondezas, viu ser construída a Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres que, depois de abandonada, se tornaria uma popular taberna – o João da Ermida. Vastas remodelações se verificaram em 1835, não só no Chafariz como em toda a zona circundante, chegando a existir uma concorrida feira, que seria proibida em 1893, devido à enorme turbulência dos seus frequentadores e, ainda por cima, com um cemitério tão perto…
Uma das novidades, introduzida no conjunto arquitectónico do Chafariz, foi o acrescento de uma pequena nau que, segundo a prosa do ilustre jornalista e olisipógrafo Norberto de Araújo, era “uma das mais lindas naus quinhentistas de Lisboa, bela pedra de um relevo mais adoçado de expressão do que bárbaro de corte” (in Legendas de Lisboa).
No século XVIII, toda esta vasta zona populacional, que sucedera à Quinta dos Prazeres, fazia parte da então Freguesia do Senhor Jesus da Boa Morte, que seria extinta em 1780, e o seu território partilhado pelas freguesias, dos intra-muros de Lisboa, Santa Isabel e São Pedro em Alcântara. Esta mesma área pertence, hoje, às Freguesias de Santo Condestável e Prazeres, destacadas há cerca de meio século, de Santa Isabel e Alcântara.
Fernando J. Almeida
in http://jbairro.blogspot.com/2007/07/fonte-santa-dos-prazeres.html